Carta do Presidente do GAFCON - Fevereiro de 2017

Aos fiéis e amigos do movimento GAFCON, do Arcebispo Nicholas Okoh, Primaz Metropolitano de toda a Nigéria e Presidente do Conselho dos Primazes da GAFCON.

Meu querido povo de Deus,

Uma diocese de outra província africana alinhada à GAFCON decidiu recentemente fazer uma generosa doação anual para o GAFCON, para o que o bispo descreveu como uma “causa nobre”. Ele está certo, e nós deveríamos estar confiantes abraçar essa afirmação para o nosso movimento. Não que reclamemos qualquer nobreza para nós mesmos. Nós somos pecadores salvos pela graça, mas a graça de Deus que age em nossas vidas nos leva ao desejo de que nossas Igrejas deveriam estar alinhadas com os Seus nobres e redentores propósitos, conforme revelado a nós por Seu filho e nos confiado nas inspiradas escrituras.

O apóstolo Paulo escreve: “Esta é uma declaração confiável: Quem quer que aspire ser um encarregado da obra de Deus, deseja uma tarefa nobre” (1 Timóteo 3.1). Para os anglicanos, bispos têm uma responsabilidade particular de vigilância divina para garantir a saúde espiritual daqueles com os quais, com o seu trabalho, compartilham “a cura das almas”. Então o que nós podemos entender pelo relatório recente divulgado pela Casa dos Bispos da Igreja da Inglaterra sobre a questão do casamento e do relacionamento entre pessoas do mesmo sexo? A que ponto isso reflete a “nobre tarefa” da vigilância divina?

O relatório não recomenda mudanças no ensinamento oficial da Igreja da Inglaterra a respeito do casamento e das relações sexuais, pelo que devemos ser agradecidos. Considerando que os bispos resistiram à pressão de seguir o caminho da Igreja Episcopal dos Estados Unidos, da Igreja Anglicana do Canadá e da Igreja Episcopal Escocesa, de mudar a definição de casamento.

Existem, no entanto, sérias preocupações. É instado que precisamos procurar posições contraditórias para resolver questões que são “de alguma maneira ocultas de nós” (parágrafo 8). Não há razão para tal otimismo, mas um dos pontos centrais do relatório também afirma que ainda é possível que os anglicanos “caminhem juntos” (parágrafo 59), e que foi esse o acordo firmado entre os Primazes Anglicanos, quando se reuniram em Canterbury em janeiro de 2016.

O que realmente concordamos em nossa resolução de Canterbury foi que enquanto “for nosso desejo unânime andarmos juntos”, as ações da Igreja Episcopal “prejudicam ainda mais a nossa comunhão”. Isso está alinhado com a Afirmação e a Declaração de Jerusalém, que identifica a rejeição do ensinamento apostólico sobre sexualidade e casamento como uma manifestação de um “falso evangelho”, que requer disciplina divina.

Assim sendo, parece que os bispos da Igreja da Inglaterra recomendaram a coisa certa pela razão errada. Eles mantiveram os ensinamentos tradicionais da Igreja, não porque isso representa um marco apostólico, mas porque acreditam que manter juntas visões opostas pode, eventualmente, corresponder em algum tipo de consenso.

Esse entendimento é confirmado pelo fato de que o relatório encoraja o relaxamento da disciplina da igreja e confunde a sensibilidade pastoral com uma cultura permissiva da Igreja, que já tolera, na prática, clérigos que contrataram “casamentos” entre pessoas do mesmo sexo. A inclusão do chamado à oração Islâmica na Catedral de Gloucester como parte de suas celebrações de múltiplos credos indica que os desafios práticos da doutrina Anglicana na Igreja da Inglaterra não serão limitados a questões de casamento e sexualidade. Isso aconteceu logo após a leitura de uma passagem do Alcorão, que nega a divindade de Jesus, durante um culto epifânico da Santa Comunhão da Catedral Cscocesa da Igreja Episcopal de Santa Maria, em Glascow. Tal ação foi fortemente desafiada pela GAFCON do Reino Unido.

O que acontece na Igreja da Inglaterra deve afetar a habilidade do Arcebispo de Canterbury the reunir a Comunhão global. Tem havido certa especulação se os Primazes da GAFCON irão ou não atender a próxima Reunião dos Primazes de Canterbury, marcada para outubro deste ano. Nós ainda temos de nos encontrar para uma discussão formal, mas, juntos aos nossos irmãos Primazes no Cairo, na Conferência Global do Sul, em outubro último, nós veiculamos um comunicado que deixou claro que perdemos confiança nas instituições da Comunhão alocadas em Canterbury.

Nós dizemos “Os agentes também enviaram sinais de conflito sobre questões de disciplina que confundem todo o Corpo e enfraquecem a nossa confiança neles”. Infelizmente, a despeito de seus méritos, o relatório da Casa Inglesa dos Bispos teve efeito similar.

 

Finalmente, deixe-me oferecer um tributo ao Reverendo Dr. Mike Ovey, Reitor da Faculdade de Teologia Oak Hill, em Londres, cuja repentina morte chocou e entristeceu tantos de nós da família GAFCON e além. A vida dele foi um excepcional exemplo de alguém que abraçou a nobre tarefa de ensinar a Palavra de Deus com paixão, coragem e enorme clareza.

 

Nenhum de nós que esteve na GAFCON de 2013, em Nairóbi, vai esquecer o seu discurso “A graça de Deus ou a palavra do Ocidente?”. Ele nos mostrou o quão profundamente as Igrejas do Ocidente tem sido moldadas pela “pobre graça”, focada nos sentimentos de direito e amor próprio dos indivíduos, em contraste à maravilhosa graça de Deus, que é recebida pelo arrependimento e pela fé e dá frutos em vidas de discípulos fiéis. Faço minhas as suas palavras finais:

“As necessidades do mundo são muitas, nós todos sabemos disso, mas essa é a necessidade fundamental do mundo, que seus pecados sejam perdoados. E é por isso que se faz absolutamente imperativo que nós da GAFCON preguemos não uma reles graça, mas uma dispendiosa graça para o mundo, não porque odiemos o mundo, mas porque o amamos, assim como nosso Salvador também o amou.”

Reverendíssimo Nicholas D. Okoh

Arcebispo, Metropólitano e Primaz de Toda a Nigéria, e Presidente do Conselho de Primazes da GAFCON.